terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

INFECÇÃO URINÁRIA EM CRIANÇAS

Um sério problema que os pediatras enfrentam no seu dia a dia é a infecção urinária (IU), pois ela é a mais freqüente infecção em crianças após a respiratória. Nas crianças com febre, sem causa aparente, a infecção urinária pode ser encontrada num percentual de 7 a 8%. Já nas emergências pediátricas febris e com sintomas digestivos, o índice de infecção pode chegar a 18%.

Nos primeiros 6 meses de vida, a IU ocorre mais nos meninos devido ao maior número de malformações congênitas do trato urinário. Depois do primeiro ano de vida, o predomínio da IU ocorre nas meninas. A incidência de IU nas meninas é da ordem de 3 a 5% e de 1 a 2% nos meninos.

O que é ?

A IU é definida pela presença de microorganismos na urina em qualquer parte do aparelho urinário. A identificação do microorganismo causador da IU é fundamental para o diagnóstico e o tratamento adequado.

Tanto nos meninos como nas meninas, o agente mais comum é a Escherichia coli, bactéria da flora intestinal, responsável por 80% a 95% dos casos de IU. Segue-se, em ordem de freqüência, estafilococo, proteus e klebisiela. Mas o trato urinário, também, pode ser atacado por vírus (adenovírus), fungos, bacilo da tuberculose.

A principal via de contaminação do trato urinário é a ascendente. A partir da flora bacteriana da região perianal, é que se dá a contaminação urinária. Somente em infecções generalizadas (septicemia) pode ocorrer que a via sangüínea seja a fonte de infecção urinária, mas isto é excepcional.

O que se sente?

Na maioria das vezes, a IU em crianças apresenta sintomas urinários iguais aos dos adultos: ardência, urgência e freqüência urinária aumentada. Mas, em muitos casos, podem surgir sintomas diferentes e a criança apresentar-se irrequieta, irritadiça, sem fome e emagrecer. Fica com medo de urinar. Algumas vezes, ocorrem sintomas digestivos com dor abdominal, náuseas, vômitos, diarréia, febre e até icterícia (amareläo). Raramente, a IU em crianças é sem sintomas, mas quando isto acontece o diagnóstico fica mais difícil de ser feito.

Como se faz o diagnóstico?

Quando as queixas urinárias são sugestivas, a confirmação do diagnóstico de IU se faz pela presença de leucócitos, sangue e bactérias no exame de urina e bactérias na urocultura. Para encontrar as bactérias na urina é necessário coletar uma urina representativa. Porém, a coleta em crianças menores de 5 anos é difícil de ser feita. Cuidados extremos devem ser adotadas para evitar a contaminação que pode prejudicar o diagnóstico de infecção urinária.

Há quatro métodos de coleta da urina que podem ser usados com crianças: jato médio, saco coletor, sondagem (cateter) e punção suprapúbica.

O jato médio e o saco coletor são de mais fácil contaminação. A sondagem é um método invasivo que pode levar bactérias para o interior da bexiga, restando a punção suprapúbica como o padrão ouro para a coleta de urina na urocultura em crianças menores.

Após os 5-6 anos, a criança já é mais cooperativa e o jato médio passa a ser mais utilizado, deixando-se a punção para os casos de dúvida. Colher uma urina confiável é fundamental, porque a presença ou ausência de bactérias faz o diagnóstico.

Em crianças, a ecografia do aparelho urinário é obrigatória após o primeiro episódio de infecção urinária. Com esse exame, procura-se afastar os fatores predisponentes congênitos e adquiridos e, principalmente, os obstrutivos. É importante que se determine se há malformações e alterações da estrutura funcional do aparelho urinário. Para isso, deve-se realizar os estudos necessários, sejam eles radiológicos, ecográficos e/ou cintilográficos.

Em 30-45% das crianças com pielonefrite, foi encontrado refluxo vésico ureteral devido a algum defeito congênito ou adquirido, que resulta em uma válvula uretero-vesical, incapaz de impedir o refluxo da urina da bexiga para o rim.

Como se trata?

A IU nas crianças deve ser tratada precoce e intensamente visando à erradicação do processo infeccioso. Quanto mais precoce, menos cicatrizes e defeitos estruturais vão ocorrer.

Além do tratamento por antibióticos, a ingestão de líquidos deve ser abundante, cuidando que as micções sejam sempre as mais completas possíveis. Geralmente, o tratamento é feito em casa, mas crianças debilitadas e com outros problemas médicos devem ser hospitalizadas para tratamento. Na infecção repetitiva e/ou com malformação estrutural, principalmente as crianças com refluxo vésico ureteral, pode ser necessário tratamentos com medicação antiinfecciosa por longos períodos.

Em relação aos meninos, a literatura médica mostra que os não circuncidados apresentam maior probabilidade de infecção urinária, (10 a 20 vezes mais). Isso não é uma indicação generalizada, mas deve ser discutida com o seu médico pediatra, principalmente se o menino já teve alguma IU e não apresenta outras alterações anatômicas.

Evolução

As infecções urinárias não complicadas têm uma evolução boa. As dificuldades de tratamento e evolução ocorrem mais nas infecções urinárias complicadas por fatores obstrutivos, doenças neurológicas (bexiga neurogênica) e no refluxo vésico ureteral.

Numa revisão de crianças que tiveram infecção urinária, 27 anos após a IU, 23% delas eram hipertensas, 10% tinham insuficiência renal crônica, 7% eram transplantadas e 3% estavam em diálise. Portanto, 43% das crianças evoluíram com uma ou mais alterações renais importantes.

Devido aos problemas futuros, deve-se fazer o diagnóstico precoce e tratamento adequado em todos os casos de infecção urinária em crianças

Glossário

septicemia: infecção generalizada, provocada por microorganismos.

icterícia: coloração amarela do corpo devido à presença anormal de bilirrubinas.

vesical: referente à bexiga.

suprapúbica: região acima do púbis.

cintilografia: exame de imagem que permite ver um tecido ou órgão, na presença de uma substância radioativa.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico

Como devo observar a criança, para perceber que ela tem IU?

Como evitar as complicações futuras?

Devemos procurar sempre malformações?

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