terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

ARTRITE REUMATÓIDE: TRATAMENTO

Exames laboratoriais: avaliação da atividade inflamatória

Os testes utilizados são VSG (velocidade da sedimentação globular, também denominado hemossedimentação e eritrossedimentação), proteína C reativa e menos vezes alfa-1 glicoproteína ácida. Costumam estar elevados proporcionalmente à gravidade da doença e diminuir com o sucesso do tratamento. Não esquecer que estes testes não são específicos. Podem estar elevados em qualquer doença que provoque inflamação ou infecção.

O fator reumatóide (FR) é a anormalidade imunológica mais marcante da AR. Aparece em 80% dos pacientes e, portanto, utilizado como critério diagnóstico de primeira linha. Entretanto, além de não estar presente em 20% dos pacientes com AR, pode demorar até 1 ano para tornar-se positivo. Outro fato relevante a respeito do FR é a sua presença em outras doenças reumáticas e não reumáticas tais como hepatite crônica ativa, hepatite viral, lepra, tuberculose, doenças malignas e várias outras. Nestes casos, em geral, o título (concentração) costuma ser mais baixo.

O resultado do exame deve ser um número. Sugere-se não aceitar testes expressos em cruzes ou somente positivo ou negativo.

Exames descritos recentemente, fator perinuclear e anticorpos anti-queratina, são menos vezes positivos mas podem ser as únicas alterações precoces e, deste modo, proporcionar diagnóstico em fase inicial da doença. Este fato é importantíssimo para que o tratamento correto seja iniciado logo, evitando-se as deformidades já citadas.

Hemograma completo, plaquetas, transaminases e exame comum de urina são obrigatórios para que se possa avaliar os efeitos colaterais dos medicamentos usados. Ultimamente, pesquisa de vírus de hepatite (principalmente vírus C) têm sido incluídos na avaliação inicial e, eventualmente, durante a evolução.

Também são necessários exames para avaliar comprometimento dos rins e fígado e outros que a avaliação inicial ou evolução da doença indicar.

Exames por imagens

Os exames podem ser utilizados para diagnóstico, para estabelecer o estágio de comprometimento articular e para comparação com exames prévios visando avaliar a eficácia do tratamento.

Radiografias convencionais

Não mostram alterações específicas da Artrite Reumatóide (AR) em fase inicial mas edema e osteoporose articular e ausência de alterações que sugiram outra doença articular são úteis para encaminhar o diagnóstico. As deformidades aparecem em doença mais avançada.

Ecografia articular

Executada por especialista experiente pode detectar mínimas lesões que já ocorreram nos primeiros meses da Artrite Reumatóide(AR). Também é utilizada para avaliar lesòes em tendões.

Ressonância magnética

É bastante sensível para demonstrar inflamação articular e comprometimento cartilaginoso precoce e lesões em tecidos moles (tendões, ligamentos e nervos).

Critérios diagnósticos

São utilizados os critérios publicados em 1987 pelo Colégio Americano de Reumatologia, sendo necessários pelo menos quatro:
artrite de três ou mais articulações vistas por médico e com envolvimento simultâneo com duração mínima de 6 semanas
artrite de articulações das mãos, incluindo punhos, com duração mínima de 6 semanas
artrite simétrica (para interfalangianas e metacarpofalangianas não é necessário o mesmo dedo)com duração mínima de 6 semanas
rigidez matinal de mais de 1 hora com duração mínima de 6 semanas
presença de fator reumatóide
nódulos reumatóides
alterações radiológicas sugestivas de Artrite Reumatóide (AR).

Como se trata?

Nos últimos 10 a 15 anos foram se modificando os esquemas do tratamento da Artrite Reumatóide (AR). Velhos remédios estão sendo melhor usados e novos estão surgindo. Verificou-se que o tratamento precoce e, muitas vezes, associação de vários medicamentos desde o início proporciona melhor prognóstico. Os médicos estão fazendo diagnóstico mais cedo (talvez porque os pacientes estejam mais alertas quanto ao especialista que procurar), possibilitando a introdução precoce do melhor tratamento. Desse modo, maior número de pacientes está evoluindo melhor e ficando com menos deformidades e limitações. Porém, quando a causa de uma doença não é conhecida não há um tratamento curativo. E ainda há uma parcela significativa de portadores de Artrite Reumatóide (AR) que não têm a melhora desejada.

Nesse momento, é importante salientar que a maioria das doenças clínicas não são curadas, somente controladas. Por exemplo, não se cura hipertensão arterial e diabete: os medicamentos deverão ser usados por toda vida. São curadas infecções porque é eliminado um agente externo conhecido. As cirurgias são mais eficazes porque corrigem defeitos ou extirpam o problema. Um indivíduo pode ser portador de uma doença grave e estar emocionalmente bem porque ela não provoca sintomas.

A desvantagem que um paciente com Artrite Reumatóide (AR) com má evolução tem é que a dor, a limitação de função ou a deformidade observável lembra-o que ele está doente. E mais:

Amanhecer com dor e rigidez articular;
Ter as atividades de parte ou todo dia limitadas;
Não saber, ao deitar à noite, como será a manhã seguinte;
Usar medicamentos que podem produzir efeitos colaterais;
Fazer exames laboratoriais periódicos;
Ter sempre que fazer exercícios sendo, muitas vezes, acompanhados de procedimentos fisioterápicos;
Ter que consultar seu médico várias vezes ao ano; nem sempre sentir nele o amigo e conselheiro que o entende
Ter a desventura de não encontrar na família e amigos a compreensão acerca de suas limitações ou, ao contrário, haver exagero ou superpreocupação quanto às suas reais limitações e dificuldades

Estes são problemas sérios que pacientes e médicos devem conhecer e manejar adequadamente. Assim, pacientes e familiares devem estar conscientes das possibilidades evolutivas da Artrite Reumatóide (AR) e serem orientados sobre o melhor modo de se conduzirem. O paciente pode precisar de períodos de repouso e deve ser respeitado e auxiliado nessas ocasiões. Seus professores ou colegas de trabalho também devem ser acionados.

Então, o que já vimos?

O diagnóstico deve ser feito logo
O tratamento mais eficaz, na maioria dos casos, é associação de medicamentos iniciada precocemente
Os familiares, amigos e pessoal do ambiente de trabalho devem ser orientados ou estarem a par da situação
Exercícios e outros procedimentos fisioterápicos devem ser iniciados em seguida (de acordo com tolerância)

Os medicamentos usados no tratamento da Artrite Reumatóide (AR) são divididos de acordo com o modo de ação em:

analgésicos e antiinflamatórios não-esteróides
corticoesteróides
drogas modificadoras da doença (drogas remissivas)

Analgésicos e Antiinflamatórios não--esteróides (AINES)

Estes medicamentos não agem na evolução natural da doença. Não podem ser o único tratamento.

Os analgésicos têm efeito quando a dor não é forte. Sua vantagem é a boa tolerância pelo estômago e não aumentar a pressão arterial.

Os AINES são assim denominados porque não são cortisona (corticoesteróides). São muito úteis não só por sua ação antiinflamatória mas, principalmente no início do tratamento, devido à sua ação analgésica. Aliviam as dores enquanto as drogas modificadoras da doença, que têm ação lenta, estão atuando. Quando tolerados, podem ser usados continuamente e auxiliam na tentativa de usar-se doses baixas de corticóide ou até mesmo evitá-los. Os efeitos colaterais mais freqüentes são azia (pirose), gastrite e úlcera de estômago. Por reterem sódio, alguns pacientes poderão ficar com pés e pernas inchados. Hipertensos precisam ter muita atenção se usarem AINES por longo tempo.

Corticóides

A grande maioria dos portadores de Artrite Reumatóide (AR) usa corticóide. Deve ser usado em dose baixa e sempre com orientação médica. Obedecendo-se a esta regra básica os efeitos colaterais serão mínimos justificando-se os riscos face aos benefícios obtidos. Trabalhos recentes comparando-se tratamentos mostraram que quando usados desde o início, em dose baixa e associados às drogas modificadoras da doença o prognóstico será melhor e haverá menos erosões ósseas. Naqueles pacientes com mínima atividade inflamatória o reumatologista pode optar em usar AINES associados aos remissivos e aguardar algum tempo de evolução antes de decidir por corticóide.

Também podem ser usados em injeções intra-articulares (infiltrações). Há consenso em não repetí-las na mesma articulação mais do que 2 vezes ao ano.

Drogas modificadoras da doença

São assim chamadas porque suprimem em parte ou totalmente a atividade inflamatória e bloqueiam a evolução natural da doença. Devem ser usadas logo que o diagnóstico for confirmado. Há crescente consenso acerca da associação de pelo menos duas drogas remissivas desde o início do tratamento mas se o reumatologista observar que a doença está pouco agressiva ou se estiver preocupado com os efeitos colaterais dos medicamentos em casos específicos, está adequado iniciar-se com uma só droga.

Cada medicamento pode provocar seus efeitos colaterais. Não são freqüentes e serão evitados com exames laboratoriais periódicos e oftalmológicos quando forem usados antimaláricos.

Infelizmente, muitos pacientes receberão o tratamento ideal já com longo tempo de evolução e com deformidades estabelecidas. Além disto, não são todos pacientes que se beneficiam com os medicamentos oferecidos. Por este motivo, novas drogas estão surgindo e, lentamente, ocupando seu espaço. Mas mesmo as mais modernas, baseadas em conhecimentos mais finos do mecanismo íntimo da AR não funcionam em todos pacientes.

Cirurgia

Os tendões devem ser operados quando rompem ou, quando já bastante lesados, não conseguem manter a articulação estável e a função fica muito prejudicada. Muitos pacientes adaptam-se com suas limitações e recusam cirurgia.

Grandes destruições articulares levam a dor forte e incapacidade de praticar atos do dia a dia (caminhar, erguer-se de uma cadeira, sair da cama, usar o vaso sanitário, usar talheres). Nestes casos estão indicadas as próteses articulares cujos resultados, na maioria das vezes, são gratificantes.

Há alguns poucos pacientes que, a despeito do tratamento estar funcionando adequadamente, ficam com um "escape" em uma ou duas articulações as quais em pouco tempo provocam lesões destrutivas importantes. Nestes casos, estão indicadas cirurgias para retirada da membrana articular (sinóvia) extremamente inflamada e hipertrofiada. Após a cirurgia, os pacientes devem continuar o tratamento clínico pois é muito difícil a retirada completa da membrana sinovial e há risco dos pacientes retornarem à situação anterior.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico

Esta doença tem cura?

Qual a finalidade do tratamento?

O tratamento é esta receita somente ou devo repetí-la?

Há interferência com outros remédios que estou usando?

Quais os efeitos colaterias? Devo fazer exames de controle?

Existem problemas com obesidade e dieta?

Qual a importância de exercícios e repouso?

Que cuidados devo ter com meus hábitos diários, profissionais e de lazer?

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