terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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22º DIABETES
23º OBSTRUÇÃO INTESTINAL NO ADULTO
24º ANEMIA POR CARÊNCIA DE VITAMINA B12
25º CIRROSE

CIRROSE

O que é?

A cirrose é uma doença difusa do fígado, que altera as funções das suas células e dos sistemas de canais biliares e sanguíneos.

É o resultado de diversos processos, entre os quais, a morte de células do fígado e a produção de um tecido fibroso não funcionante. Isto prejudica toda a estrutura e o trabalho do fígado.

Como se adquire e como se desenvolve?

Após períodos variáveis de tempo, indivíduos com inflamações crônicas do fígado estão sujeitos a desenvolverem cirrose.

Não é possível prever quais as pessoas com doença de fígado que terão cirrose.

As causas mais comuns são:

As hepatites crônicas pelos vírus B e C

O alcoolismo.

Outras causas menos comuns são:

As hepatites por medicamentos;

Hepatite Autoimune;

Esteatohepatite não-alcoólica (NASH)

Doenças genéticas (Hemocromatose, Doença de Wilson);

A cirrose biliar primária ou secundária (dificuldade crônica, sem causa definida, do fluxo de bile desde o interior do fígado ou, eventualmente, após cirurgias complicadas da vesícula, das vias biliares ou do fígado).

A cirrose biliar primária ou secundária (dificuldade crônica, sem causa definida, do fluxo de bile desde o interior do fígado ou, eventualmente, após cirurgias complicadas da vesícula, das vias biliares ou do fígado).

Em recém-nascidos, a atresia biliar (uma malformação dos canais que conduzem a bile do fígado ao intestino) é importante causa da rápida instalação de cirrose no bebê, situação curável apenas por transplante hepático.

O que se sente?

A doença se desenvolve lentamente e nada pode ser percebido por muitos anos.

Podem ocorrer sintomas inespecíficos como:

Fraqueza e cansaço;

Perda de peso;

Alterações do sono;

Dores abdominais não localizadas.

Com a evolução, aparecem diversas manifestações que, dependendo do paciente, serão predominantemente de um ou de outro grupo de sintomas.

As alterações relacionadas aos hormônios são:

Perda de interesse sexual;

Impotência;

Esterilidade;

Parada das menstruações;

Aumento das mamas dos homens;

Perda de pelos.

As alterações relacionadas à circulação do sangue no fígado (hipertensão da veia porta) levam a:

Aumento do baço;

Varizes do esôfago e estômago com risco de hemorragias graves (vômito ou fezes com sangue).

Devido à incapacidade do trabalho da célula hepática, acumula-se bile no sangue, surgindo a icterícia (amarelão), que pode estar associada à coceira no corpo.

Muitas outras alterações podem ocorrer, tais como:

Ascite (barriga d'água);

Inchaço nas pernas;

Desnutrição (emagrecimento, atrofia muscular, unhas quebradiças);

Facilidade de sangramento (gengiva, nariz, pele);

Escurecimento da pele.

A Encefalopatia Hepática (EpH) – síndrome com alterações cerebrais decorrentes da má função hepática, produz:

Agitação no comportamento ou sonolência excessiva;

Dificuldade de dormir, de escrever, de falar, de dirigir veículos, de cálculos simples.

Esta EpH tem vários graus e chegando ao coma, pode levar à morte. A encefalopatia pode ocorrer pela progressiva evolução da doença do fígado ou por intercorrências agudas de infecção, sangramento, excesso alimentar de proteínas ou constipação (dificuldade de evacuação).

Como o médico faz o diagnóstico?

O diagnóstico definitivo de cirrose é feito por biópsia hepática (obtida por punção do fígado com agulha especial) e análise microscópica do material obtido nesse exame. Em muitos casos, quando o paciente chega ao médico, seu quadro é típico da doença e a avaliação complementar mais simples, com a ecografia , a endoscopia digestiva e alguns exames de sangue, é suficiente para estabelecer o diagnóstico clínico.

Quando existe uma história de uso excessivo de bebidas alcoólicas ou exames de sangue positivos para os vírus da hepatite B ou C fica facilitado o diagnóstico da causa da cirrose. Diversos outros exames estão disponíveis para investigação das causas menos comuns de cirrose.

Como se trata?

A suspensão do agente agressor (álcool, drogas) ou a eliminação do vírus da hepatite pode desacelerar ou parar a evolução da doença, evitando as complicações mais graves. Entretanto, a cirrose é um processo irreversível.

Cada uma das complicações da cirrose exige um tratamento específico, geralmente visando o controle de situações agudas como sangramentos, infecções, ascite ou encefalopatia. O transplante de fígado aparece como única opção de cura da doença, alcançando bons resultados. Ainda é um tratamento difícil de ser conseguido pela falta de doadores e pela complexidade da cirurgia.

Como se previne?

A melhor prevenção das cirroses de origem viral é através da vacinação contra Hepatite B e dos rigorosos critérios de controle do sangue usado em transfusões.

O uso de preservativos nas relações sexuais e o uso individualizado de seringas pelos usuários de drogas injetáveis também são fundamentais.

É necessário o tratamento dos portadores das hepatites crônicas B e C, antes que evoluam para cirrose. E nos portadores de cirrose inicial, para prevenir que cheguem a estágios mais avançados.

No caso do álcool, deve-se evitar o seu uso excessivo. É exigida a parada total do seu consumo em indivíduos com hepatite B ou C.

Apesar de apenas uma minoria das pessoas que bebem demais terem cirrose, o risco aumenta proporcionalmente à quantidade e ao tempo de consumo. Sabe-se, também, que doses menores de álcool podem provocar cirrose em mulheres.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico

O que posso fazer para a doença não piorar?

Cirrose é um tipo de câncer?

Tenho risco de ter câncer por causa da cirrose?

Eu sou candidato a transplante de fígado?

Devo usar sempre os remédios? E quando acabar a receita?

Essa doença interfere em remédios que estou usando ou que precise usar por outros motivos?

O que posso usar para dor de cabeça ou gripe?

Devo mudar alguma coisa na minha rotina para lidar com a cirrose?

ANEMIA DA CARÊNCIA DE VITAMINA B12

Sinonimos

Anemia da carência de Ácido Fólico, Anemia Perniciosa

A vitamina B12, cujo nome científico é cianocobalamina, foi isolada e identificada a partir de um extrato de fígado, em 1948. É indispensável, na espécie humana, para a proliferação dos glóbulos do sangue e para a manutenção da integridade das células nervosas. A vitamina B12 só existe no reino animal; os vegetarianos restritos (que não comem nenhum produto de origem animal), raríssimos no Brasil, desenvolvem a carência.

A deficiência comum é a que decorre da falta de absorção da vitamina, por uma doença auto-imune da mucosa do estômago - a gastrite atrófica - que, rara antes dos 40 anos, aumenta de freqüência com a idade, até tornar-se muito comum na velhice. A incidência é maior no sexo feminino, em pacientes com doenças da tireóide e com vitiligo. A falta de vitamina B12 causa anemia e alterações neurológicas, que são progressivas e mortais se não houver tratamento, donde o nome de anemia perniciosa dado à doença antes de sua notável e recente descoberta.

Anos de absorção inadequada são necessários para o esgotamento das reservas de B12 do organismo, mas a partir daí, a anemização é rápida:

há glossite (língua vermelha e ardente),
surgem dormências, depois falta de sensibilidade, nas extremidades,
e, por fim, deterioração mental irreversível.

O hemograma mostra que a anemia é macrocítica, isto é, caracterizada pela presença de eritrócitos (glóbulos vermelhos) maiores que o usual. A dosagem de vitamina B12 no soro sangüíneo é útil para o diagnóstico, que se completa pela notável resposta ao tratamento de reposição: dois ou três dias após a primeira injeção intramuscular de vitamina B12, o paciente sente-se eufórico, bem disposto e com apetite. A anemia cura-se em poucas semanas; os sintomas neurológicos de modo mais lento. Como a gastrite atrófica é uma doença definitiva, o tratamento com uma injeção mensal de B12 deve ser mantido por toda a vida.

A inclusão da dosagem de vitamina B12 na avaliação laboratorial de pacientes idosos tem permitido o diagnóstico da deficiência antes da aparição da anemia e dos sintomas acima; a reposição parenteral da vitamina causa, em alguns desses pacientes, significativa melhora das condições mentais. A ação da vitamina no organismo é muito ampla; a dosagem deve tornar-se um exame rotineiro em geriatria.

Anemia da carência de ácido fólico

O ácido fólico (nome científico ácido pteroilglutâmico) é uma vitamina do complexo B, abundante nas folhas verdes (donde o nome fólico), presente em pequena quantidade em muitos outros alimentos vegetais, e na totalidade dos alimentos de origem animal. A fervura prolongada dos alimentos destrói a vitamina.

A deficiência de ácido fólico, no organismo, geralmente ocorre quando há uma dieta carente, por precariedade de condições sócioeconômicas, associada a excesso de demanda.

No Brasil é comum, em:

Crianças em idade de máximo crescimento (1 a 3 anos): o crescimento exige ácido fólico.
Gestantes: o crescimento fetal consome ácido fólico materno.
Alcoolistas: alimentam-se apenas das calorias vazias do álcool e desenvolvem múltiplas deficiências; a de ácido fólico é potencializada porque o álcool age como seu antagonista no metabolismo.
Pacientes com doenças inflamatórias crônicas do trato digestivo que ocasionam má absorção de ácido fólico são raras.

A interação do ácido fólico com a vitamina B12 é indispensável para a proliferação dos glóbulos do sangue. A falta de ácido fólico causa uma anemia macrocítica idêntica a da falta de B12, mas não causa doença neurológica. Os pacientes perdem o apetite, o que faz piorar a dieta, por hipótese, já carente; há rápido emagrecimento. O tratamento com ácido fólico por via oral causa imediata melhora clínica; o paciente desenvolve um apetite voraz que corrige espontaneamente a dieta.

Só há recaída em casos de extrema pobreza ou de alcoolismo persistente.

OBSTRUÇÃO INTESTINAL NO ADULTO

Relato de nossa experiência em 17 anos de atividade médica na área de gastroenterologia, quando participamos do tratamento de quinhentos casos de abdômen agudo em adultos, entre os quais, 80% apresentavam obstrução intestinal.

Obstrução intestinal é uma interrupção parcial ou total da passagem do bolo alimentar pela luz do intestino.

Principais Causas Mecânicas

As principais causas para a ocorrência de obstrução intestinal são:

Aderências/bridas (principalmente em pessoas que já sofreram cirurgia abdominal)
Inflamações (peritonite, doença de Crohn)
Tumores
Invaginação
Volvulo/torção de alça
Cálculo biliar (íleo biliar)
Bezoar (corpos estranhos)
Pós-cirurgias (complicações)
Vermes (ascaris)
Hérnias abdominais (internas e externas)
Diverticulite
Enterite por radiação
Traumatismos
Íleo espástico

Outras Causas Não Mecânicas

Íleo paralítico (adinâmico) que tem origem em diversas causas clínicas
Isquemia mesentérica aguda
Distúrbios metabólicos
Intoxicação por chumbo (saturnismo)

Quadro Clínico da Obstrução Intestinal

A característica inicial de uma obstrução intestinal é a distensão do abdômen provocada pelo acúmulo de ar deglutido (vários litros diários), alimentos e secreções do aparelho digestivo - constituídas por saliva, sucos gástricos, biliares, pancreáticos e intestinais -, que podem chegar de seis a oito litros diários.

Portanto, o conjunto de alimentos, ar deglutido e secreções, ao não ser absorvido nas últimas porções do intestino, não conseguirá fazer o trânsito intestinal normal e, conseqüentemente, irá dilatar o intestino, provocando todo o quadro dramático de abdômen agudo, conhecido como obstrução intestinal.

Este quadro pode ser repentino ou insidioso, dependendo principalmente:

da causa que o provocou
se a luz do intestino fechou total ou parcialmente
se ocorreu repentinamente – casos de torção de alça, também chamados de volvulo ou casos de hérnia estrangulada – ou se ocorreu paulatinamente, como nos casos de aderências pós-operatórias ou devido a tumores Hérnia Estrangulada
se a dificuldade do fluxo não se deu por uma oclusão, como no íleo adinâmico.

Diagnóstico

O diagnóstico diferencial da obstrução intestinal, apesar de ser complexo e multidisciplinar, é relativamente fácil para um médico experiente em abdômen agudo, pelas características próprias da luta da alça contra o obstáculo.

É importante agir antes de aparecerem os vômitos fecalóides, os quais são os sinais de obstrução em alça intestinal baixa (distante do estômago).
Com um simples estetoscópio usado no exame abdominal o médico pode ouvir ao mesmo tempo a queixa do paciente pela dor em cólica (dor intensa, tipo cãibra) e o som característico - de borborigmos, ronco do rolamento de líquidos-, o que a torna diferente das cólicas biliares e renais, nas quais não está presente o som inconfundível de luta da alça.
Inicialmente, deve ser excluído o quadro característico das cólicas menstruais, a possibilidade de gravidez ectópica, abortamento iminente e assim por diante. Esses dados devem ser ponderados também no exame radiológico.
As infecções agudas do intestino, onde também estão presentes as cólicas, não se acompanham de intensa distensão abdominal, geralmente com diarréia. Mesmo nas obstruções parciais, quando pode haver eliminação de fezes e gases, as alças intestinais estão distendidas muito acima do normal pelo acúmulo hidroaéreo.
Quando a obstrução não é ocasionada por um agente mecânico, como no enfarte da artéria mesentérica (artéria que irriga o intestino), apesar da distensão abdominal, no achado clínico, não estarão presentes ao exame as cólicas e rolamentos na luz intestinal - é o chamado íleo paralítico ou adinâmico. Esta situação faz-se acompanhar de um quadro geral muito grave pelo sofrimento vascular.
Existe uma outra situação de íleo paralítico, raríssima, ocasionada por um distúrbio metabólico em conseqüência da falta de potássio.
Existem situações que fazem parte do diagnóstico diferencial. Por exemplo, o enfarte do miocárdio, a pancreatite aguda e o herpes zoster, com fortes dores abdominais e gás nos cólons, mas onde não existem os ruídos hidroaéreos característicos da luta intestinal contra o obstáculo. Exames, sintomas e sinais fazem o diagnóstico da causa e orientam seu tratamento clínico.
Quando o quadro obstrutivo mecânico provoca sofrimento vascular, como nos casos de volvulo (torção de alça) ou hérnia estrangulada, o estado geral do paciente se agrava rapidamente.
Na obstrução intestinal existe uma enorme desidratação endógena (interna) pelo acúmulo de líquidos no intestino.
A obstrução intestinal pode acontecer em qualquer sexo e idade. A mortalidade pode variar de 2 a 25% e se encontra relacionada com a demora na desobstrução.
As obstruções parciais nos permitem avaliar com mais tempo a melhor orientação a tomar. Estes quadros representam mais de 50% das obstruções e a maioria pode ser resolvida sem intervenção cirúrgica. Outros quadros nos permitem colocar o paciente em melhores condições clínicas para uma intervenção com menor risco cirúrgico.

Portanto, um médico com ouvido experiente e exames adequados pode fazer o diagnóstico diferencial.

O exame clínico é imperativo – os exames apenas confirmam o diagnóstico.

Exames de RAIOS-X

Níveis LíquidosEstes exames podem ser executados em um hospital apropriado ou mesmo em um serviço mais simples, por um técnico treinado, os quais são interpretados pelo médico na ausência de um radiologista.

Foi provado cientificamente que praticamente todo ar no intestino delgado é simplesmente ar deglutido.

A ação de bactérias sobre alimentos não digeridos forma o gás do intestino grosso.

Em poucas horas após uma obstrução, já temos ar (sombra) suficiente para visualizar nos raios-X.

O exame que confirma o diagnóstico clínico é os raios-X simples de abdômen, com o paciente em posição vertical (em pé).

Nesta posição, podemos identificar os níveis de líquidos (hidroaéreos), os quais são facilmente visualizados, possibilitando identificar a região da obstrução, já que as alças que estiverem acima da obstrução estarão dilatadas, cheias de líquidos e gases. As que estiverem abaixo da obstrução estarão murchas.

Como os intestinos, jejuno, íleo e cólons têm suas características morfológicas diferenciadas, o médico experiente observa que os gases acumulados desenharam as paredes destes órgãos. Com estes sinais, ele pode determinar a provável localização da obstrução, por exemplo, se a oclusão é alta ou baixa. Serve também para orientar se a oclusão é total ou parcial. Na obstrução total, há ausência de ar no cólon e reto.Níveis líquidos na mesma alça, em alturas diferentes, demonstram obstrução mecânica (luta da alça). Quando esses níveis estão na mesma altura, indicam adinamia ou seja, íleo paralítico.

Exames de ultrasom (ecografia) e ressonância magnética devem ser usados nos casos de dúvida da interpretação da radiografia simples de abdômen.Igualmente, em anos recentes a laparoscopia abdominal tem sido de grande utilidade em mãos de endocopistas experientes.

Em nossa experiência clinica, tivemos a oportunidade de descrever um sinal de oclusão total, ao qual denominamos de “Sinal do Colar”, com a simples verificação de pequenas quantidades de gás residual em alças murchas (pós-obstrução), com forma de pérolas.

Sempre deve ser excluída a possibilidade de gás extra-intestinal por perfuração de víscera oca (estômago e intestino).

Essa exclusão é realizada no exame de raios-X.

Coloca-se o paciente deitado de lado (decúbito lateral) e faz-se a radiografia simples do abdômen com raios horizontais. Se houver, mesmo que seja uma pequena quantidade de gás na cavidade abdominal, o gás tenderá a subir e desenhar com uma sombra nítida a parte superior e lateral do abdômen, entre a parede abdominal e a membrana que envolve as vísceras (peritônio). Isso é ar fora das vísceras e a conclusão lógica é de que existe uma perfuração que pode acontecer, por exemplo, com uma úlcera perfurada que resulte em peritonite.

O uso de contrastes – Bário – além de produzir resultados discutíveis, atrapalha a interpretação dos níveis hidroaéreos, sendo que o paciente, principalmente aquele com obstrução alta, vomita o conteúdo e, no caso de paciente com obstrução baixa de intestino delgado, o contraste demora a chegar ao local.

O bário terá indicação por via baixa somente em alguns casos de obstrução do cólon e reto.

Combater a demora é o nosso principal objetivo, portanto, na nossa experiência, o uso do bário só trouxe dificuldades para o diagnóstico emergencial.

Ao mesmo tempo em que se confirma o diagnóstico, coloca-se o paciente em condições clínicas:

com sonda nasogástrica para descompressão da parte alta do tubo digestivo
com adequada compensação do desequilíbrio hidroeletrolítico.

Com nossa experiência e através de uma pesquisa recente na literatura, entendemos que existe lugar para o uso de sondas intestinais longas, particularmente nas obstruções jejunais altas, quando o duodeno (1a porção do intestino) também sofre dilatação.

Irrigação do Duodeno Como o duodeno possui uma irrigação singular na sua parede, essa situação provoca sofrimento, agravando o quadro clínico.

As novas técnicas de enteroscopia ajudam a colocar a sonda longa nas porções altas do intestino.

A seguir, se a obstrução é total, procede-se à cirurgia, seja a tradicional ou por laparoscopia.

Não está bem claro qual o melhor método de intervenção, se laparoscopia ou laparotomia (cirurgia tradicional). Temos a impressão que, após uma triagem adequada e nas mãos de um cirurgião que conheça os benefícios e os limites da laparoscopia, esta seria a primeira opção de escolha na maioria das obstruções. Entretanto, sabemos que, em muitos casos, esta terá que ser convertida para uma cirurgia abdominal tradicional.

A cirurgia de paciente com obstrução intestinal, realizada por médico experiente em emergências, tem todas as condições de lograr grande êxito na solução desta ocorrência dramática.

As obstruções acompanhadas de peritonite sempre são tratadas, além da desobstrução, com grandes lavagens da cavidade abdominal para limpeza da infecção nesta cavidade. O peritônio (membrana que recobre todo o intestino) defende-se melhor quando atua contra o agente agressor com toda a sua superfície.

Sempre tivemos dúvidas em relação ao uso de drenos na cavidade abdominal após a ampla lavagem desta, em casos de peritonite. O benefício das drenagens era pequeno comparado com o grande risco de levar outra infecção de fora para dentro. Portanto, esta equação risco-benefício nos fazia recomendar o não uso de drenos.

Jamais verificamos uma perfuração dos intestinos exclusivamente por dilatação das alças intestinais.

As obstruções intestinais com sofrimento vascular são encaminhadas com urgência urgentíssima para ressecção (retirada) intestinal da alça afetada.

Algumas Particularidades no Quadro de Obstrução Intestinal

ÍLEO BILIAR

ÍLEO BILIARO íleo biliar é uma pedra volumosa que provoca uma inflamação na parede da vesícula e atinge o órgão vizinho – o intestino. Com a progressão desta inflamação, ocorre a perfuração destas vísceras. A pedra ao progredir pela luz intestinal caminha até encontrar uma luz intestinal menor que seu tamanho ou vai arrolhar-se na válvula ileocecal (passagem do intestino delgado para o intestino grosso). Este processo provoca uma obstrução total ou intermitente.
ÍLEO POR BEZOAR

Bezoar é um aglomerado constituído por cabelos ou vegetal, que se formam no estômago. Ao se tornarem volumosos, podem migrar pelo intestino e ocasionarem uma obstrução intestinal. Tivemos oportunidade de verificar esses tipos de ocorrência em 11 casos. Estes corpos estranhos podem ser retirados de modo fácil do intestino e, muitas vezes, com regozijo por serem mais comuns em pessoas idosas com suspeita de tumor maligno.
ÍLEO ESPÁSTICO

ÍLEO ESPÁSTICO Encontramos essa entidade curiosa por duas vezes: é um segmento do intestino de 10 a 15 cm, com contração permanente, em que a simples manobra de fazer passar os líquidos estagnados da pré-obstrução já desfaz a mesma.
SATURNISMO

Também faz parte da nossa experiência um quadro curioso de Saturnismo, ocasionado por ingestão de perdizes com chumbinhos de caça em um vidro de escabeche. Os sintomas lembram as cólicas da obstrução mecânica. O paciente apresentava ventre em tábua (defesa abdominal, com o abdômen duro à palpação), porém não havia oclusão intestinal.
ADERÊNCIAS

Aderências são bridas ou membranas que se encontram, conforme estatísticas de respeitáveis centros médicos, entre 50 a 95% de vezes, em maior ou menor quantidade, após cirurgias abdominais realizadas por métodos tradicionais ou por laparoscopia. São responsáveis por grande número de obstruções intestinais e também por suas recidivas e não está claro qual dos dois métodos de intervenção (laparoscopia e cirurgia tradicional) provoca menor ocorrência de bridas.

Convém lembrar que, desfeita a obstrução, o intestino pós-oclusão deve ser cuidadosamente examinado, pois poderá haver mais de uma oclusão nas alças pós-obstrução e esse fato passar desapercebido durante o ato da intervenção.

Na tentativa de evitar recidivas e desfeita a obstrução, introduzimos a sistemática de fazer passar os líquidos estagnados na alça pré-obstrução para a alça pós-obstrução, com manuseio cuidadoso.

Esse procedimento serve para:

verificar a possibilidade da existência de aderências e a lise destas e de outras obstruções
É sabido que o líquido estagnado não é tóxico e, apesar de haver alguma dificuldade de absorção pela estase venosa das paredes intestinais, o paciente estaria sendo hidratado com seus próprios líquidos estagnados.

Como se Formam as Aderências?

Fibrina A trombina mais fibrinogênio, no líquido da cavidade abdominal, forma uma proteína chamada fibrina e é esta que constitui as membranas (chamadas bridas ou aderências), que se formam em até dois dias.

Na superfície da parede intestinal (serosa) age como se fosse uma cola que une as estruturas vizinhas, o que não deixa de ser uma cicatrização inconveniente.

Qual é a Nossa Expectativa?

Esta “cola” junta as alças dilatadas (gordas), sem aglomerados, angulações, posições forçadas ou viciadas.

Na realidade, nós não estamos “prevenindo” novas aderências, elas é que irão se formar em superfícies com membranas mais extensas e largas, permitindo assim movimentação mais livre, quando as alças voltarem ao seu estado e tamanho normal.

Desta maneira, em vez de termos uma cicatrização que estreita, que encarcera ou aprisiona estas alças, teremos uma membrana (aderência) que será mais larga, mais frouxa, permitindo movimentos mais livres do intestino, evitando assim junções inadequadas e perigosas.

Em nossas verificações, tivemos a impressão de que houve menores recidivas obstrutivas por aderência, após a cirurgia e o uso desta sistemática.

Não houve, entretanto, oportunidade de fazer um acompanhamento com estudo controlado.

O melhor tratamento será a conjugação de:

um clínico conservador que, preocupado com o estado geral do paciente, procure o melhor momento para uma cirurgia ou que consiga evitá-la
um médico cirurgião destemido que também não queira perder a melhor oportunidade e diminuir o risco cirúrgico.

A maioria dos casos de oclusão parcial, bem avaliada, pode ser resolvida com tratamento clínico, com o uso de sondas para descompressão, principalmente se a causa é por aderência.

Finalizando, é importante destacar que o temido “nó nas tripas”, quando bem tratado, em condições adequadas, tem grandes probabilidades de solução.